Houve uma época em que eu era a moça do RH, tanto pra quem era funcionário das empresas onde eu trabalhei, quanto para os candidatos dos processos seletivos que eu coordenava. Depois de alguns contatos e projetos juntos, as pessoas passavam a me citar como Valeska do RH (o que já era um avanço), mas até que isso acontecesse, eu ainda levava o apelido inicial.
Confesso que em alguns momentos eu me incomodava, especialmente pela palavra moça, pois tinha a impressão de que ela tirava um pouco do meu profissionalismo - além do fato de que, por anos, tentei disfarçar a minha idade (já que na época eu acreditava que o fato de eu ser jovem também diminuía a minha credibilidade). Assim, termos como moça ou mocinha me causavam uma sensação negativa e eu evitava qualquer associação a eles.
Eu não tinha como controlar a forma como as pessoas iriam se referir a mim - é igual aquele apelido que pega: quanto mais citamos que não gostamos, mais as pessoas se lembram dele. Além disso, havia algum motivo pelo qual as pessoas achavam mais fácil se referirem a mim daquela forma, e não era necessariamente com uma intenção negativa (é possível que simplesmente ainda não haviam conseguido memorizar meu nome, por exemplo). Ainda assim, eu gostaria de mudar esse contexto e comecei a aplicar algumas técnicas de comunicação para isso.
Obviamente, não era possível controlar o imaginário das pessoas e decidir como eu gostaria de ser lembrada. Entretanto, eu poderia sim me posicionar de uma forma que transmitisse uma imagem diferente. Afinal, a minha comunicação era (e continua sendo) minha própria responsabilidade.
Essa consciência me levou a observar todos os elementos que pareciam influenciar na imagem que eu transmitia, para que eu pudesse adaptá-los de alguma forma, considerando quem eu era e a forma como eu gostaria de ser vista.
COMECEI ME OLHANDO NO ESPELHO
Claro que, dentro de mim, eu sabia que esse era o meu diagnóstico: era vista como uma profissional que havia acabado de chegar na empresa, com aparência jovem, pouca experiência, e com uma postura e um tom de voz gentis (tinha isso também!).
Com isso em mente, olhei para mim mesma no espelho (figurativa e literalmente) e pensei em como eu mesma me enxergava. Será que eu mesma não me percebia como uma profissional que possuía todas as características que combinavam com o apelido de "moça do RH"?
DEPOIS, ENTENDI QUAIS ERAM OS ELEMENTOS QUE CONSTRUÍAM ESSA IMAGEM
Me lembro que na época eu fiz uma espécie de investigação, com ações como:
Conversei com pessoas próximas para entender como elas me percebiam e o que as faziam ter determinadas impressões sobre mim;
Busquei referências de pessoas que tinham uma imagem parecida com a que eu gostaria de ter (já pensando em como eu poderia me inspirar - mas mantendo minha personalidade);
Tomei consciência sobre elementos internos e externos do meu posicionamento (como meu comportamento, minhas falas, minha postura e até meu vestuário);
... E muito mais!
A partir daí, eu já tinha uma ideia muito mais concreta (com exemplos) do quê, na prática, contribuía para que a minha imagem fosse percebida daquela forma. Essa foi uma fase fundamental para que eu definisse quais seriam as minhas ações para, então, influenciar mudanças nesse sentido.
TESTEI, ME ADAPTEI E FUI ME ENCONTRANDO
Apesar de ter um objetivo em mente (que, em resumo, era ser percebida no meu ambiente com mais credibilidade), fui testando algumas adaptações na forma como eu me comunicava. Foram diversos pequenos ajustes, e destaco esses como os principais:
Além de fazer um bom trabalho (o que era o mínimo para mim, que buscava credibilidade), eu falava sobre isso. Aqui, foi importante encontrar a dose certa ao me comunicar: afinal, eu não queria parecer arrogante, mas gostaria - sim - que outros colegas soubessem das minhas contribuições e habilidades;
Me envolvia em projetos com outros departamentos e plantas (inclusive de outros países) - o que fazia com que o meu nome estivesse associado a esses projetos (e seus resultados);
Ao orientar, por exemplo, um candidato que iria até a empresa para uma etapa do processo seletivo, em vez de dizer "na recepção, informe que veio para uma entrevista" eu enfatizava meu nome "na recepção informe que veio para uma entrevista com a Valeska" (se eu tivesse certeza de que ela seria comigo, claro).
É importante entender que não há receita pronta: fui entendendo tanto a dinâmica da organização quanto o fazia sentido pra mim. É preciso encontrar um caminho em que possamos ajustar nosso posicionamento ao mesmo tempo em que não nos percamos de nós mesmos, tentando ser outras pessoas - o que, inclusive, não é viável a longo prazo. Isso significa que criar um personagem não é uma opção saudável quando se trata de imagem profissional. Te aconselho testar, recalcular a rota, e testar novamente até encontrar o melhor formato pra você - ou conversar com um Mentor de Carreira que possa te guiar, traçando estratégias que estejam alinhadas aos seus objetivos.
APRENDI QUE É UM PROCESSO CONSTANTE
Nunca tive certeza de que a minha estratégia funcionou para 100% das pessoas com quem tive contato. É muito provável que algumas pessoas continuavam usando o termo "moça do RH" em alguns momentos, claro.
Mas o mais bacana desse processo é que o meu nome, Valeska, passou de uma palavra quase desconhecida, para uma palavra que passou a ter um determinado significado no imaginário de muitas daquelas pessoas (inclusive, esse conceito foi bem abordado por Saussure, um linguista suíço que explica como uma palavra - signo - pode ter diferentes interpretações para diferentes pessoas).
Não temos garantia sobre como seremos interpretados pelas outras pessoas, mas temos um poder muito grande nas nossas mãos chamado influência. Através do conteúdo e da forma como nos comunicamos, podemos transformar a nossa imagem pessoal e profissional, o que nos deixa muito mais perto dos nossos objetivos! :)
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Artigo publicado originalmente aqui.
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