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  • Foto do escritorValeska Petek

Desapego Corporativo: sobre o valor que eu dava para o crachá


Quando atuei no mundo corporativo, eu dava um valor gigante para o meu crachá. Hoje, vejo que o principal motivo disso foi a minha história de vida e as minhas referências.


Meus pais nunca trabalharam em grandes organizações: na cidade onde nasci, no interior de São Paulo, meu pai é cabeleireiro e minha mãe é vendedora. Na época do vestibular, ouvi falar sobre universidades públicas na escola, e tentei uma aprovação sem conhecer ninguém próximo que tivesse passado por essa trajetória.


Já na universidade e em outra cidade, também no interior de São Paulo, comecei a ouvir falar de empresas multinacionais e fiquei super empolgada ao descobrir que elas existiam também naquela região (até então, eu achava que só em capitais eu teria essa oportunidade).


Ter o crachá com o nome de uma grande empresa era um motivo de orgulho. Era o símbolo de uma conquista que outras pessoas antes de mim, especialmente minha família, não haviam tido a oportunidade de alcançar. Sempre ouvia que conseguir um emprego como aquele era sinal de esperança, pois poderia ter uma boa carreira e condições de vida melhores.


Esse pensamento não é errado.


Entretanto, o mundo corporativo tem suas peculiaridades. Trabalhar muitas horas extras (o que é comum em algumas organizações), por exemplo, não é exatamente a ideia de "condições de vida melhores" que eu imaginava. Lidar com as relações políticas que regem os relacionamentos nas organizações (e que, portanto, influenciam o fato de um projeto ser aprovado ou não) também não faz parte da minha lista de desejos.

Minha proposta não é "falar mal" do mundo corporativo, afinal, todas as dinâmicas de trabalho têm seus prós e contras. A ideia é refletirmos sobre como uma visão menos romantizada nos ajuda a ter expectativas mais realistas - e, portanto, ter uma experiência mais positiva nesse contexto de carreira.


O CRACHÁ TEM UM SIGNIFICADO FORTE...

Sim, aquele pedacinho de plástico (ou papel, ou metal) simboliza muita coisa. Ele representa o vínculo de um profissional com uma organização, e algumas são verdadeiros sonhos de consumo dos profissionais (as mais desejadas costumam ser citadas em pesquisas como a Carreira dos Sonhos e a Great Place to Work).

Há profissionais que se sentem tão orgulhosos por terem esse vínculo com algumas delas que, ao descreverem seus cargos atuais, mencionam as empresas anteriores, usando expressões como "ex-Nike" ou "ex-Google", por exemplo. Eu mesma cito minha passagem pelas organizações onde atuei: não com a nomenclatura de "ex", mas como uma referência de onde vivi minhas experiências profissionais mais relevantes antes da atual.


Isso acontece devido ao posicionamento dessas marcas.


O posicionamento é o espaço que uma marca ocupa na mente de uma pessoa. No caso dos consumidores, por exemplo, há a pesquisa Top of Mind, que identifica quais são as primeiras marcas que vêm à mente ao considerar um segmento, como refrigerante, sabão em pó, e outros (inclusive, é provável que, ao ler "refrigerante" e "sabão em pó" tenhamos pensado na mesma marca).



Esse mesmo conceito de posicionamento de marca diante dos consumidores pode ser aplicado ao público que inclui funcionários e candidatos (que podem se tornar funcionários um dia). Aqui, trabalhar a Marca Empregadora (ou Employer Branding) faz a diferença para que cada vez mais pessoas tenham interesse em fazer parte do time.


Mesmo empresas que não investem nessa estratégia contam com, no mínimo, o boca a boca - ou seja, funcionários que contam como é trabalhar por lá. Podemos ter acesso a esses relatos de forma direta (conversando com um funcionário da organização) ou indireta (o site Glassdoor reúne depoimentos e o próprio LinkedIn nos possibilita ter acesso à recortes da rotina de profissionais de diversas áreas de atuação).

O que não faltam são estímulos para que algumas organizações sejam desejadas. Isso explica muito do orgulho sentido ao, finalmente, fazer parte da equipe delas.


... MAS, NO FIM, É SÓ UM OBJETO SIMBÓLICO EMPRESTADO.

Todas as organizações são um agrupamento de pessoas, unidas por um contrato de trabalho, que visam atingirem objetivos em comum. Há quem esteja ali mais pelo salário, outros mais pela experiência, outros não veem a hora de mudar de emprego, outros estão celebrando o fato de que acabaram de entrar... mas todos estão atuando rumo a uma mesma meta, que é fazer com que a empresa tenha sucesso.


Atuei em organizações privadas (empresas) de diversos perfis, desde as pequenas e familiares, até as grandes e multinacionais. A experiência em cada uma delas é única, pois os processos e as proporções são diferentes: é difícil comparar a Valeska ensinando inglês em uma escola de idiomas no Brasil, e a Valeska em videochamada em inglês com pessoas de pelo menos cinco países diferentes.


Os passos que precisam ser seguidos e o nível de responsabilidade são diferentes em cada uma dessas organizações. Isso significa que, atuando em uma multinacional, por exemplo:


  • Um projeto pode ter que passar pela avaliação de mais pessoas até ser aprovado. Por isso, dependendo da estrutura da empresa, uma ideia - mesmo simples - pode demorar muito mais pra sair do papel;

  • O atraso de um dia em uma entrega pode ter um impacto negativo de milhões de reais, dependendo do projeto. Por isso, em alguns casos, é justificável a demanda por horas extras de trabalho para que o cronograma seja mantido;

  • ... e muito mais.


O mundo corporativo tem sua própria dinâmica, com a sua própria complexidade. Cada empresa é responsável pelo seu próprio clima organizacional e por garantir condições éticas, saudáveis e legais sobre essa dinâmica de trabalho. Por outro lado, no que cabe a nós como indivíduos, minha sugestão é sempre avaliar o que faz sentido considerando nossos próprios objetivos de carreira.

Enquanto lia o livro "Mulheres Não São Chatas, Mulheres Estão Exaustas", de Ruth Manus), me deparei com esse trecho:

"Será mesmo que eu quero uma carreira dessas nas quais é preciso trabalhar até tarde para conseguir uma promoção? (...) Simplesmente ir vivendo, sem questionar nossos rumos, é uma coisa perigosa e pode facilmente nos levar para estradas de frustração e infelicidade."

Não me leve a mal: o mundo corporativo é um mar de possibilidades. Tive experiências incríveis em empresas estruturadas, multinacionais e devo a elas grande parte da rede de contatos que tenho hoje. O ponto é: assim como em qualquer relacionamento, não podemos colocar ninguém em um pedestal. Nem uma empresa, nem um líder, ninguém. Se você tiver que colocar alguém, que seja você mesmo, como sua prioridade.


Não atuo diretamente no mundo corporativo desde o segundo semestre de 2020 (conto mais sobre isso no artigo A demissão que me faltava: o que mudou em mim após passar por ela) e posso garantir: seja por escolha própria ou por escolha da empresa, o rompimento do contrato de trabalho com uma organização não te define. Você é muito mais do que o cargo, o status, e o @ que vem ao lado do seu nome no e-mail corporativo. Tudo isso é temporário e dura até que você ou a empresa deseje que isso aconteça.


Caso aconteça, lembre-se de que há outras empresas por aí: algumas que talvez você nem saiba que existam, outras que estão sendo fundadas agora, enquanto escrevo esse artigo... E, se fizer sentido pra você abraçar essa nova oportunidade, um novo crachá estará te esperando. Ou quem sabe você decida pegar carona nessa mudança, resgatar um sonho antigo como o de empreender (como foi o meu caso)? Não existe receita-padrão, existe o que faz sentido pra você.


Todos os meus crachás, que já simbolizaram tanto orgulho pra mim, foram devolvidos nas minhas despedidas. E tá tudo bem. Fizeram parte da minha história, e ficaram por lá quando eu avancei para os próximos capítulos. Se você devolveu o seu recentemente, minha sugestão é focar nos próximos passos: a sua história ainda tem muito pela frente! :)


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Artigo publicado originalmente aqui.

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