Se pudéssemos tirar apenas um grande aprendizado dos últimos anos, a lição que eu citaria é de que as mudanças são uma constante na nossa vida - afinal, a única certeza que temos é que as coisas mudam. Por mais que a velocidade dessas transformações tenha se intensificado após a pandemia de COVID-19, ela não é a única causadora dessa instabilidade - há fatores externos que nos demandam adaptações e também nossas próprias transformações internas, que nos levam a querer mudar algo ao nosso redor.
Independentemente se estamos nos adaptando a algo que aconteceu (como uma transferência de cidade proposta pela empresa) ou a algo que nós mesmos, por iniciativa própria, fizemos acontecer (como a escolha de uma nova cidade visando qualidade de vida), mudanças nos geram desconforto.
Por mais que sejamos seres adaptáveis, toda mudança tem seu preço. Mesmo quando é "pra melhor", há um investimento de energia, tempo e até emoções para lidar com tantas coisas novas.
Assim, mesmo diante de um contexto de frustração, nem sempre conseguimos fazer algo para transformá-lo - ou mesmo dar início a esse processo. Para entender de onde vem essa sensação, convidei a psicanalista Paloma Carvalhar para compartilhar ideias de como podemos, efetivamente, começar.
QUEM DISSE QUE PRECISA ESPERAR CHEGAR AO LIMITE?
É comum ouvirmos relatos de pessoas contando como chegaram ao seu limite para, então, tomarem alguma ação considerada "radical":
O casal que teve muitos conflitos durante todo o relacionamento e, após 30 anos juntos, reconhece que faz sentido se separarem;
A pessoa que, após enfrentar graves problemas de saúde decorrentes de hábitos não saudáveis, adota uma rotina com mais cuidados;
O profissional que se sente infeliz com o trabalho há 10 anos e, após algum acontecimento em específico, decide pedir demissão sem olhar pra trás.
Claro que, dependendo dos nossos objetivos, ter uma dose de persistência é o que vai fazer a diferença, pois alguns resultados levam tempo para acontecer. Há também mudanças que podem acontecer independentemente da nossa ação (e que nem imaginávamos serem possíveis). No nosso último exemplo, do profissional que se sente infeliz, poderia acontecer de a empresa passar por uma reestruturação, ou então as vendas crescerem muito e novos cargos serem criados, ou qualquer outra novidade que impacte nas oportunidades para os funcionários.
Entretanto, não podemos prever o futuro. Pode ser que algo aconteça, ou não. Na dúvida, em vez de contar com a sorte, sugiro agirmos com base nos fatos (reais e concretos) que temos hoje. Até porque, quem disse que precisamos atingir o nosso limite (físico e mental) para, então, termos autorização para buscamos algo diferente?
Tá tudo bem querer um salário ainda melhor, uma promoção mais rápida, um trabalho remoto, um cargo com atividades que nos façam mais felizes... Seja qual for o seu principal sonho profissional, tá tudo bem ir atrás dele agora.
Pessoas felizes com seus empregos não ficam pensando se deveriam estar buscando outro emprego.
Se você sente que o contexto atual não te faz feliz, comece o seu processo de mudança. Você não precisa estar no seu limite para justificar a sua vontade de ir atrás de algo melhor para a sua vida e a sua carreira.
MUDAR (SAIR DA CAVERNA) É MESMO DESAFIADOR
Um dos maiores filósofos da Grécia antiga (Platão) escreveu sobre o Mito da Caverna, uma história que descreve homens que estavam presos dentro de uma, sem acesso ao mundo fora dela (a única coisa que eles viam eram sombras, refletidas em uma parede, das pessoas que estavam do lado de fora).
Em um dado momento, um dos homens conseguiu sair e se assustou com o que viu, pois era tudo bem diferente do que a sua imaginação havia criado. Perceba que aqui já há uma decisão: ele poderia voltar para a caverna (conhecida) ou se adaptar ao novo. Após vivenciar o que o mundo fora dela tinha a oferecer, ele retorna para contar aos outros sobre a sua experiência e tentar libertá-los. No fim, Platão conta que os outros prisioneiros não acreditaram no relato e, com medo das ideias "absurdas", até mataram o fugitivo.
Interpretando essa história, podemos observar que a caverna é a nossa realidade, e as sombras são o que conhecemos dela: nosso trabalho, nossas experiências, nossos traumas, nossa moralidade - tudo o que entendemos que seja o mundo. Essas sombras são projetadas pelo mundo exterior (outras pessoas com suas próprias visões de mundo, a mídia e algumas instituições, por exemplo), portanto podem ser distorcidas (pois são uma interpretação). Enquanto isso, na história, os outros prisioneiros (que questionam o relato do fugitivo) representam o nosso conflito interno entre aceitar o que nos impõem versus questionar e ver o mundo com os nossos próprios olhos.
Quando tomamos alguma ação considerada mais radical ou "transgressora" (como pedir demissão ou migrar para uma área de atuação muito diferente da atual), é como se estivéssemos saindo da caverna. É uma forma de tentarmos ver o mundo do nosso jeito, questionando o que foi projetado pelos outros (família, amigos, escola, religião, mídia), na busca do que faz sentido para cada um de nós, individualmente.
Vale reforçar que o ato de "sair da caverna" não nos coloca em uma posição acima dos outros. Significa apenas que estamos buscando pensar de forma diferente, com mais autoconhecimento a respeito de nós mesmos, avaliando o que gostamos e questionando o que queremos para as nossas próprias vidas. Ainda Platão, o mesmo filósofo do Mito da Caverna, desenvolveu uma teoria que diz que conhecermos a nós mesmos é o primeiro passo para sermos felizes.
Felicidade é sentir que fizemos o nosso melhor com o que estava ao nosso alcance. Mais do que realizar desejos, ela é sobre sermos fiéis a quem somos e ao que amamos, e sentirmos orgulho da nossa trajetória.
É possível ser feliz em nossos próprios termos! Mas vale o lembrete: levantar-se e sair de um contexto socialmente aceito não é um processo pleno e tranquilo. Enfrentamos dúvidas, como "será que os outros prisioneiros estão certos e eu deveria ficar aqui na caverna?" ou "será que o que eu vi lá fora é mesmo real, seguro e melhor?". É um processo doloroso e que nos traz inseguranças. Por isso, especialmente quando acabamos nos sentindo paralisados e sem saber por onde começar, ter uma luz sobre nossos próprios medos (como em um processo de terapia com um psicanalista) pode fazer a diferença.
Pegue leve e aceite o seu processo. Não é de um dia para o outro que vamos acordar prontos para enfrentar tudo isso, mas podemos começar com o primeiro passo.
"TÁ BOM, JÁ TOMEI CORAGEM PARA MUDAR. MAS POR ONDE, EFETIVAMENTE, COMEÇO?
No livro Sem Esforço, o autor Greg MecKeown conta a história de uma mulher que precisava de ajuda para organizar seu escritório. Havia tantos livros ali, espalhados, que a solução seria comprar algumas estantes. Entretanto, ela não havia encomendado as estantes ainda, pois precisava antes medir as paredes. E o motivo de ela ainda não ter medido as paredes era porque ela não conseguia encontrar sua trena. Ou seja, a primeira ação óbvia para resolver o problema seria encontrar, comprar ou emprestar uma trena.
Encontrar o passo um é o primeiro passo.
Frequentemente os problemas parecem maiores do que eles são, por isso, experimente dividi-los em etapas para simplificá-lo ao máximo. Perguntar "por quê?" sempre que encontrar algum obstáculo pode ajudar. Por exemplo:
Não me sinto valorizado no meu trabalho atual. - Por quê?
Porque não gosto das minhas atividades. - Por quê?
Porque quando me formei, minha ideia era atuar com A, e hoje passo a maior parte do tempo fazendo B. - Por quê você queria atuar com A?
Porque eu gosto de atuar com algo mais relacionado a C, e hoje lido muito com D. - O que você pode fazer para que seu próximo trabalho tenha mais atividades voltadas a C?
Esse é um exemplo de exercício que podemos fazer para encontrar o que faz sentido para cada profissional, pois em vez de focar no que não traz satisfação, focamos no que traz. A partir daqui, cada caso é um caso, e traçamos um Plano de Carreira, com plano de ação, sobre o que será feito para que esse profissional fique mais perto de um contexto de trabalho que traga satisfação.
USE ESSE ARTIGO COMO COMO IMPULSO
Se você sente que é o momento de mudar, dê o primeiro passo. E se você não começa porque se sente perdido, calma: não precisa ter todo o caminho visível para começar a agir. O importante é dar o passo um, pois os outros virão na sequência.
Leia a respeito da área pela qual você se interessa, considere testar como seria atuar na área - como um freelancer, por exemplo... ou converse com alguém que tenha mais conhecimento e experiência para te guiar (como um Mentor de Carreira) - o que deve tornar o seu processo muito mais ágil do que passar por ele sozinho.
Vamos ao SEU primeiro passo: o que você pode fazer HOJE para começar o seu processo de mudança? :)
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Artigo publicado originalmente aqui.
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